domingo, 28 de março de 2010

rapel de pescoço

penso logo existo. pudera eu, tão facilmente, deixar de pensar. até isso era injusto em sua vida. nog viveu uma vida de cobaia. sempre foi uma cobaia. nasceu um filho cobaia, foi uma criança cobaia, cresceu num adolescente cobaia e findou num jovem adulto que já estava farto de ser testado. num derradeiro dia, em que perdera tudo o que carregava em sua mochila e seu coração, resolveu ser cobaia de si mesmo e descobrir o quão bom poderia ser fazendo rapel. catou no armário as economias que ainda não tinha perdido e foi numa loja de esportes. retornou à casa apenas para dormir, e de bônus se sentir muito mal. teve um sono conturbado, estava ansioso pelo rapel. ele sentia que essa nova experiencia ia mudar sua vida por completo. acordou com a chegada da madrugada, vestiu-se e partiu de casa com uma mochila recheada com vários metros de corda de alpinista. o dia ainda estava escuro quando ele atingiu a ponte de onde pretendia dependurar-se. algumas dezenas de minutos depois e acompanhado apenas pelo bocejar do mundo acordando, nog mergulhou no escuro, preso ao mundo por apenas uma corda. quando finalmente o dia raiou uma pequena multidão debruçáva-se sobre as grades da ponte, atônitos. seguiam com os olhos o caminho da corda, que banhada pelo dourado do sol descia serena até fazer uma volta ao redor do pescoço de nog. e ele balançava docemente e com um sorriso no rosto acompanhando a brisa que por debaixo da ponte passava

sexta-feira, 5 de março de 2010

sentia-se só. muito só. desde que acordou não viu ninguém, apenas as pessoas que lhe passavam tão pequenas por sua janela. comeu algo, mas não sentia sabor algum. bebeu água e sua boca permanecia seca. seus ouvidos sentiam falta do som, não de música mas de uma voz qualquer. o tempo lhe rastejava depressa. não sabia quantas horas haviam desde de que acordou. pareciam dias ou segundos. a estagnação do mundo a sua volta o angustiava tanto que era imcapaz de sentir o cheiro ou o gosto dos cigarros que fumava.

ligou o computador e nele havia apenas uma tela em branco, nada mais. então ele começou a escrever a estória de um homem que se sentia só e escreveu a estória do um homem que se sentia só. seu nome era nog.

terça-feira, 2 de março de 2010

um dia sem ela

para nog os dias terminam na hora que deveriam começar. e termina agora um dia diferente dos que o precedem. em poucas dezenas de minutos hão de se completar 24h sem que nem um traço de fumaça tenha passado por sua boca ou nariz. não que ele quisesse isso. maldição. estivera sem dinheiro, pouco dinheiro, não podia comprar uma carteira de deliciosos cigarros. tentara comprar retalhos, mas todo e qualquer lugar que o calor de sua cidade permitisse alcançar estava sem cigarros à granel. também não podia contar com a bondade alheia, afinal de contas ninguém quer "sustentar o vício de nenhum vagabundo". cada um é seu próprio vagabundo. e por mais que nog tivesse em sua mente a regra número um do fumante: nunca negar um cigarro a um companheiro fumante. essa regra parecia não existir hoje.

a falta de cigarro é a solidão do fumante. é uma saudade lânguida. nem mesmo um filme. nem mesmo a companhia de alguém. nada consegue afastar a cabeça de nog. a nicotina é sua amante mais íntima e só uma paixão tão intensa para fazê-lo esquecê-la. a tosse carregada de catarro só o faz lembrar dos momentos de intimidade quando, envolvido em fumaça, a teve entre os dedos.

sentiu-se pela primeira vez traído. sentimento possesso. fosse antes, suportava meses sem tê-la, atualmente não. um dia é suficiente. sente-se rejeitado, e como nunca foi de mendigar sentimentos, deseja apenas não mais vê-la. sabe que podem se encontrar numa roda de amigos qualquer, mas mesmo que esteja com algum amigo seu nog nunca mais vai tirá-la para dançar. ou assim ele pensa.