terça-feira, 5 de outubro de 2010

tempo

os dias que hoje passam
não mais passam como no passado
as longas horas de tédio
viraram minutos apressados

os anos antes tão lentos
correm agora velozmente
não sei mais quem é ninguém
mas conhecia tanta gente

assim é o tempo
uma pedra ladeira abaixo
nunca para por nada
e atropela tudo em seu caminho

segunda-feira, 7 de junho de 2010

boiando

quando acordou nog percebeu estar flutuando. estava deitado numa espécie de boia ou colchão flutuante. viu-se no que parecia ser um mar, pois não podia ver margem alguma, ou um rio, pois corria velozmente em uma direção. e quando realmente caiu em si nog não sabia o que fazer. via apenas 5 direções para seguir. poderia nadar para um dos lados, na tentativa de encontrar uma margem. poderia nadar contra a correnteza, o que sentia que era a coisa certa a fazer. poderia mergulhar o mais fundo que conseguisse, sabe-se lá o que as profundezas nos reservam. mas fez o que menos lhe exigia. sentou-se abraçando os braços e seguiu, passivo, o caminho que a correnteza havia traçado para si.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

fogo na orquestra

há uns tantos anos atrás. estava nog, perdido no tédio de mais uma sexta-feira morta. ainda era jovem e o tédio lhe inquietava. decidiu procurar o que fazer e logo soube de uma apresentação musical que estava para acontecer. apesar das terríveis atrações decidiu conferir. ao chegar ao local, seguido da fumaça de seu cigarro, pôde ouvir algumas pessoas comentando sobre uma banda que não estava no cartaz e iria iniciar a noite: oquestra dos bebuns, ou algo do tipo.

quando começaram a tocar, tudo improvisado, nog teve sua atenção chamada. os quatro cabras que em cima do palco bebiam faziam um som diferente e irreverente. tudo aquilo regado a "cachaça de mendigo". no que parecia o meio do show o vocalista declara que iam terminar de passar o som e começa realmente o show, pois lhes faltava um membro da banda, o outro guitarrista. pasmo, nog dedicou-lhes total atenção dali pra frente.

assim que o guitarrista se desfez de ausente o show propriamente dit começou e derramou-se mais uma enxurrada de bom e etílico som. o consumo de alcool tanto em cima quanto embaixo do palco era intenso. a cantoria seguia alcoolizada quando várias pessoas subiram para acompanhar a música por entre os músicos. infelizmente a organização do evento não parecia estar contente com aquilo e pediu para que se encerrasse o show. diante do pedido de umas tantas (mas não muitas) pessoas, que assim como nog, estavam hipnotizadas pela banda, não houve jeito senão deixá-los tocar mais uma música. o bafo que saía das bocas cantantes era tão carregado de alccol e havia se tornado combustível e quando o cantor embriagado, até meio sem jeito, ascendeu um cigarro o palco inteiro brilhou enquanto queimava em chamas. e até hoje queima na lembrança de nog um dos melhores shows que viu em sua vida.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

trecho do livro 'nog'

“Why trying to know anything about a place? The customs, the size, the weather, the people, the economy, the politics, the fish, the suntan techniques, the games, the swimming. It’s better to stay indoors and not mess around with useless experiences. A small room in a boarding house. Anonymous. Eat each meal at a plastic counter. Smitty’s will do. Do nothing, want nothing, if you feel like walking, walk; sleeping, sleep. Do you know how hard that is? No memories; if they start to intrude, invent them. Three is sufficient. I use only three. New York for adventure, beaches for relaxation, the octopus and Nog for speculation. No connections. Narrow all possibilities. Develop and love your limitations. No one knows you. Know no one. Natural rhythms, my dear. That’s the ticket”

domingo, 28 de março de 2010

rapel de pescoço

penso logo existo. pudera eu, tão facilmente, deixar de pensar. até isso era injusto em sua vida. nog viveu uma vida de cobaia. sempre foi uma cobaia. nasceu um filho cobaia, foi uma criança cobaia, cresceu num adolescente cobaia e findou num jovem adulto que já estava farto de ser testado. num derradeiro dia, em que perdera tudo o que carregava em sua mochila e seu coração, resolveu ser cobaia de si mesmo e descobrir o quão bom poderia ser fazendo rapel. catou no armário as economias que ainda não tinha perdido e foi numa loja de esportes. retornou à casa apenas para dormir, e de bônus se sentir muito mal. teve um sono conturbado, estava ansioso pelo rapel. ele sentia que essa nova experiencia ia mudar sua vida por completo. acordou com a chegada da madrugada, vestiu-se e partiu de casa com uma mochila recheada com vários metros de corda de alpinista. o dia ainda estava escuro quando ele atingiu a ponte de onde pretendia dependurar-se. algumas dezenas de minutos depois e acompanhado apenas pelo bocejar do mundo acordando, nog mergulhou no escuro, preso ao mundo por apenas uma corda. quando finalmente o dia raiou uma pequena multidão debruçáva-se sobre as grades da ponte, atônitos. seguiam com os olhos o caminho da corda, que banhada pelo dourado do sol descia serena até fazer uma volta ao redor do pescoço de nog. e ele balançava docemente e com um sorriso no rosto acompanhando a brisa que por debaixo da ponte passava

sexta-feira, 5 de março de 2010

sentia-se só. muito só. desde que acordou não viu ninguém, apenas as pessoas que lhe passavam tão pequenas por sua janela. comeu algo, mas não sentia sabor algum. bebeu água e sua boca permanecia seca. seus ouvidos sentiam falta do som, não de música mas de uma voz qualquer. o tempo lhe rastejava depressa. não sabia quantas horas haviam desde de que acordou. pareciam dias ou segundos. a estagnação do mundo a sua volta o angustiava tanto que era imcapaz de sentir o cheiro ou o gosto dos cigarros que fumava.

ligou o computador e nele havia apenas uma tela em branco, nada mais. então ele começou a escrever a estória de um homem que se sentia só e escreveu a estória do um homem que se sentia só. seu nome era nog.

terça-feira, 2 de março de 2010

um dia sem ela

para nog os dias terminam na hora que deveriam começar. e termina agora um dia diferente dos que o precedem. em poucas dezenas de minutos hão de se completar 24h sem que nem um traço de fumaça tenha passado por sua boca ou nariz. não que ele quisesse isso. maldição. estivera sem dinheiro, pouco dinheiro, não podia comprar uma carteira de deliciosos cigarros. tentara comprar retalhos, mas todo e qualquer lugar que o calor de sua cidade permitisse alcançar estava sem cigarros à granel. também não podia contar com a bondade alheia, afinal de contas ninguém quer "sustentar o vício de nenhum vagabundo". cada um é seu próprio vagabundo. e por mais que nog tivesse em sua mente a regra número um do fumante: nunca negar um cigarro a um companheiro fumante. essa regra parecia não existir hoje.

a falta de cigarro é a solidão do fumante. é uma saudade lânguida. nem mesmo um filme. nem mesmo a companhia de alguém. nada consegue afastar a cabeça de nog. a nicotina é sua amante mais íntima e só uma paixão tão intensa para fazê-lo esquecê-la. a tosse carregada de catarro só o faz lembrar dos momentos de intimidade quando, envolvido em fumaça, a teve entre os dedos.

sentiu-se pela primeira vez traído. sentimento possesso. fosse antes, suportava meses sem tê-la, atualmente não. um dia é suficiente. sente-se rejeitado, e como nunca foi de mendigar sentimentos, deseja apenas não mais vê-la. sabe que podem se encontrar numa roda de amigos qualquer, mas mesmo que esteja com algum amigo seu nog nunca mais vai tirá-la para dançar. ou assim ele pensa.