achava aquilo perfeito. a mais plena paz. mas como a paz que é pelna é também efêmera, ela se foi... foi-se em meio aos gritos de nogs que lotavam as praias. foi-se junto com o ecoante ronco dos estômagos famintos de nog. foi-se na música que nog cantarolava e fazia toda a cidade tremer, pois eram centenas de milhares de vozes simultâneas.
e faltou comida. faltou água. faltou lugar de lazer. cada nog achava-se único em meio aos outros, achava-se rei. e com isso cada nog passou a odiar todo e qualquer nog exceto a si mesmo. dava pra sentir na atmosfera, no ar, a eletricidade gerada numa troca de olhar. e o tempo fez-se tenso. muito tenso. nenhum até então havia agido contra outro, não fisicamente, sabia o que os outros pensavam, sabia o que todos pensavam.
mas um dia além de água e comida, além de espaço ou alegria, faltou também paciência. e no exato segundo em que isso ocorreu, cada nog avançou contra o próximo nog. simultaneamente. e no meio daquele pandemônio nog sentiu o golpe, a lâmina curta e fria. "maldito nog! me esfaqueou! MALDITO". mas quando olhou para o próprio ventre era sua própria mão que segurava, com muita força, o cabo da faca. lentamente aqueles milhares de nogs, e suas bocas que cuspiam sangue, iam ao chão. "o que eu fiz?"